Leitura recomendada sobre o tema:
Teologia da Reforma

Em 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg 95 teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. O evento marca o início da Reforma Protestante e representa um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas.

A Reforma então marca um movimento focado em trazer a centralidade bíblica de volta para a Igreja. De todas as novas proposições teológicas que os cristãos protestantes adotaram em oposição a Igreja Católica, 5 pilares foram destacados como a essência da reforma.

Essas doutrinas se popularizaram como os 5 Solas da Reforma Protestante, e no texto de hoje vamos falar, rapidamente, de cada um desses Solas, sua importância para o tempo da reforma e a sua importância para nós, cristãos, hoje.

Os 5 Solas da Reforma Protestante são proposições teológicas que sintetizam os principais pensamentos dos reformadores. Todos eles são frases no Latim e o termo “Sola” significa “somente”. Assim temos os 5 Solas da Reforma:

Sola Scriptura = Somente a Escritura
Sola Gratia = Só a Graça
Sola Fide = Só a Fé
Solus Christus = Somente Cristo
Soli Deo Gloria = Somente a Deus a Glória

Vamos entender então o que cada um desses Solas significa.

Sola Scriptura ou Somente a Escritura

“Somente a Escritura” significa que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática. Mas não somente isso, significa também que não existem verdades concorrentes, mas apenas uma verdade absoluta: a Palavra de Deus é a verdade absoluta. Jesus afirmou isso em João 17:17, quando disse, em sua oração a Deus: Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.

É por meio da Bíblia que Deus nos revela sua vontade e é por meio dela que Deus nos instrui, nos repreende, nos corrige, nos educa para a justiça, tudo isso com o objetivo de nos deixar preparados para toda boa obra.

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17).

Ou seja, a Bíblia não é uma dentre muitas outras fontes de autoridade. Ela é nossa única fonte de autoridade. Não são a tradição, os credos, as revelações humanas, os concílios ou o que autoridades espirituais afirmam. Não! A autoridade dos cristãos e da igreja é a Escritura – inspirada por Deus, inerrante e suficiente.

Por meio dela somos alimentados, fortalecidos e capacitados para discernir tanto o bem como o mal (Hebreus 5:14). Ou seja, a Escritura nos aperfeiçoa.

Isso significa que precisamos olhar para nós mesmos e para o mundo por meio da Bíblia. A Palavra de Deus precisa ser a lente pela qual interpretamos todas as coisas, a fim de enxergarmos quem de fato somos e como o mundo realmente é. 

C. S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, disse certa vez: “creio no cristianismo como creio que o sol nasceu, não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele posso ver todas as coisas”. 

De modo semelhante, o Salmo 119:105 diz que a Palavra de Deus é lâmpada para os pés e luz para o caminho. É assim que a Bíblia deve ser: a luz pela qual nós vemos todas as coisas… tanto nós mesmos (nossos pés), como o mundo (o caminho por onde andamos).

O problema é que, muitas vezes, queremos interpretar o mundo e encontrar nossa verdadeira identidade usando as lentes das filosofias do mundo, as quais, como Paulo diz em Colossenses 2:8, nos escravizam, são vazias, frutos de invenções enganosas provenientes do raciocínio humano, e baseadas nos princípios espirituais deste mundo, e não em Cristo.

Essa é a razão pela qual os “solas da reforma” são tão importantes e precisam ser constantemente lembrados. Precisamos firmar nossas vidas na Palavra de Deus. Ela é, e deve ser, nossa única regra de fé e prática, pois, como diz a epístola de Tiago 1:22-25, se não colocarmos a Palavra de Deus em prática, estaremos enganando a nós mesmos.

Olhe para sua vida. Será que você tem vivido de acordo com a Palavra de Deus? Você crê, de fato, que a Palavra de Deus é a verdade? Você molda todas as áreas de sua vida por meio do que aprendeu da Palavra de Deus? Ela é sua única fonte de autoridade? Suas decisões, planos e escolhas são baseadas naquilo que a Bíblia ensina? Você ensina seus filhos com base no que a Bíblia diz sobre criação de filhos? Você lida com suas finanças considerando o que a Palavra de Deus diz sobre riqueza e dinheiro? As coisas que você julga importantes em sua vida, são as mesmas que Deus diz serem importantes em sua Palavra?

Se suas respostas a essas perguntas foram sim, ótimo, você vive o sola scriptura. Mas, se você respondeu não para qualquer uma delas, é hora de repensar suas atitudes. Minha oração é que você, assim como os reformadores, tenha a Palavra de Deus como a lente pela qual você olha todas as coisas. Que ela seja, de fato, a lâmpada para seus pés e a luz para seu caminho, sempre.

Sola Gratia ou Somente a graça.

É uma expressão que está relacionada ao fato de que a salvação do homem se dá pela graça de Deus somente. Ou seja, nossa salvação não está baseada em nada que façamos, mas no que Deus fez por meio de Jesus Cristo. 

Esse princípio foi defendido pelos reformadores em razão da doutrina católica que dizia que as boas obras ajudariam ou de algum modo contribuiriam para a salvação do homem. Ou seja, segundo essa doutrina, o homem teria algum grau de participação em sua salvação. 

Porém, não é isso que a Palavra de Deus nos ensina. A Bíblia afirma que a única contribuição do homem em seu processo de salvação é o pecado. O homem entra com seu pecado, e Deus, graciosamente, sem qualquer mérito humano, salva o pecador.

Por essa razão, a Palavra de Deus diz que a salvação é um dom de Deus, um presente gratuito, que Ele dá a quem não merece (nós).

É isso que Paulo ensina em Efésio 2:3-5, quando diz:

“Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais. Mas Deus é tão rico em misericórdia e nos amou tanto que, embora estivéssemos mortos por causa de nossos pecados, ele nos deu vida juntamente com Cristo. É pela graça que vocês são salvos!”

E ele continua, nos versículos 8 a 10, dizendo:

“Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar.”

De modo semelhante, Paulo escreveu em sua segunda carta a Timóteo (2 Timóteo 1:9), 

“Pois Deus nos salvou e nos chamou para uma vida santa, não porque merecêssemos, mas porque este era seu plano desde os tempos eternos: mostrar sua graça por meio de Cristo Jesus.” 

A salvação é uma obra realizada exclusivamente pela graça de Deus. A doutrina da salvação pela graça somente, além de ter sido fundamental para o restabelecimento da doutrina bíblica no tempo da Reforma, é de suma importância para nossas vidas hoje.

Isso porque, a doutrina da salvação pela graça somente, sem qualquer mérito humano, é uma ofensa para nós. O homem sempre se sentiu desconfortável em saber que sua salvação não depende de si mesmo, mas exclusivamente de Deus, que a concede graciosamente e não por mérito. O homem sempre quis estar no controle de tudo, até mesmo de sua salvação. É por isso que essa doutrina incomoda tanto.

E talvez ela incomode você!  Meu desafio é que você olhe para sua vida, e pense: Você pode dizer que crê que é salvo pela graça de Deus e pela graça somente? Ou você ainda acredita que algum mérito pessoal seu possa, de algum modo, afetar o desenvolvimento de sua salvação? Talvez você ainda acredite que precisa fazer por merecer a vida eterna? 

Se de algum modo você pensa assim, então você ainda não entendeu que você não merece nada, e nunca mereceu. Não existe mérito em nós. O único mérito, em nossa salvação, está na obra que Jesus Cristo realizou na cruz.

Ou, como disse Paulo, em Romanos 3:24: somos justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

Sola fide ou somente a fé.

Essa expressão está relacionada à ideia de que os pecadores são justificados “sola fide”, ou seja, somente pela fé. Isso quer dizer que os pecadores são declarados justos aos olhos de Deus, não com base em seus próprios méritos ou por suas boas obras, mas somente pela fé em Cristo.

Esse princípio foi defendido pelos reformadores em razão da doutrina católica romana que dizia que o homem não era justificado somente por sua fé, sendo necessária sua cooperação, por meio de boas obras, a fim de obter de Deus a graça da justificação. Era justamente com base nessa doutrina que a igreja romana passou a praticar a venda de indulgências, ou seja, a remissão completa dos pecados cometidos por um indivíduo por meio de pagamento monetário.

Zohann Tetzel, um monge dominicano, dizia inclusive que: “Assim que a moeda no cofre tilintar, a alma do purgatório irá saltar“.

Porém, não é isso que a Palavra de Deus nos diz. Paulo, em sua carta aos Romanos 3:20-28, é enfático ao afirmar que a justificação do pecador se dá somente pela fé:

“Pois ninguém será declarado justo diante de Deus por fazer o que a lei ordena. A lei simplesmente mostra quanto somos pecadores. Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados. Deus apresentou Jesus como sacrifício pelo pecado, com o sangue que ele derramou, mostrando assim sua justiça em favor dos que creem. No passado ele se conteve e não castigou os pecados antes cometidos, pois planejava revelar sua justiça no tempo presente. Com isso, Deus se mostrou justo, condenando o pecado, e justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus. Podemos então nos vangloriar de ter feito algo para sermos aceitos por Deus? Não, pois nossa absolvição não vem pela obediência à lei, mas pela fé. Portanto, somos declarados justos por meio da fé, e não pela obediência à lei.

Paulo utiliza termos jurídicos aqui, tais como lei, culpado, castigo, justiça, condenação e absolvição. Ele fala de alguém que é culpado (nós, pecadores), e que esse culpado merece a condenação (por causa do pecado). Porém, Deus, o justo juiz, por sua graça, declara justo o pecador, por meio de Cristo Jesus, que o resgatou. 

Ou seja, alguém pagou, de fato, um resgate pela justificação do pecador, mas esse alguém foi Jesus Cristo.

Deus mostrou sua justiça ao apresentar Jesus como um sacrifício pelo pecado, derramando seu sangue na cruz. Com isso, Ele se mostrou justo, condenando o pecado (em Cristo), e também justificador, declarando justo todo pecador que crê em Jesus.

Portanto, nossa salvação é uma obra realizada exclusivamente por Deus, em todos os seus detalhes. Por isso, como Paulo diz, não há motivo de vanglória. Nós não cooperamos em nada para nossa salvação. É tudo Deus! É tudo graça sobre graça. Onde abundou o pecado, superabundou a graça.

Só nos resta uma coisa: crer em Jesus; crer na Palavra de Deus; crer na obra redentora de Cristo realizada na cruz; crer que o sacrifício de Jesus é suficiente para remissão de nossos pecados. Crer que somos justificados somente pela fé. Nada mais! 

Por isso Paulo diz, em Efésios 2:8:

Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. (Efésios 2:8)

De igual modo, Paulo escreve a Tito dizendo: 

Mas, Quando Deus, nosso Salvador, revelou sua bondade e seu amor, ele nos salvou não porque tivéssemos feito algo justo, mas por causa de sua misericórdia. Ele nos lavou para remover nossos pecados, nos fez nascer de novo e nos deu nova vida por meio do Espírito Santo. Generosamente, derramou o Espírito sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. Por causa de sua graça, nos declarou justos e nos deu a esperança de que herdaremos a vida eterna.

Ou seja, Deus nos salva, nos lava, nos faz nascer de novo, nos dá vida por meio do Espírito Santo, derrama sobre nós o Espírito por meio de Jesus, e, por sua graça, nos dá a esperança de que herdaremos a vida eterna. E a fé é justamente a certeza daquilo que esperamos, conforme Hebreus 11:1. 

Portanto, a graça e a fé se complementam como o presente gratuito que Deus nos dá. Somos salvos pela graça, por meio da fé, e nada disso vem de nós, é tudo uma dádiva, um presente de Deus, que tanto nos amou. Deus nos deu o privilégio de crer em Cristo, como está escrito em Filipenses 1:29.

Por isso, creia! Tenha fé em Jesus. Mas ter fé não é simplesmente acreditar em Deus, pois, como Tiago diz que até mesmo os demônios acreditam e tremem (Tiago 2:19). Fé não é simplesmente ter uma confiança desvinculada da pessoa na qual se confia (tipo: eu tenho fé de que tudo vai dar certo). Fé também não é simplesmente crer no que uma igreja ou uma autoridade eclesiástica ensina (confiar numa igreja e aceitar seus dogmas sem confiar em Cristo como Salvador). Fé também não é apenas a aceitação intelectual de fatos ou de verdade bíblicas.

A fé salvífica é aquela que crê e aceita Jesus como Senhor e Salvador da sua vida, e que te move a viver de modo a agradá-lo em tudo. A fé que salva é aquela que abraça Jesus em completa confiança e descansa em seus braços, sabendo que Deus não mente, que Ele é digno de confiança e que Ele fala a verdade quando diz que a graça dele basta. E, não menos importante, a fé salvífica é aquela que produz boas obras. 

Nós somos salvos para praticar boas obras, pois sem Cristo, nossas obras são más. E sem obras, a fé é morta (Tiago 2:20). 

É por isso que o sola fide, ou a fé somente, é tão importante para nós, como foi no tempo da reforma. Pois, embora a igreja não venda mais indulgências, pelo menos não abertamente, muitos fiéis ainda são levados a acreditar que, para serem salvos, precisam colaborar, de alguma forma, com Deus, seja praticando boas obras para receber a salvação, seja dando o dízimo, por exemplo. Isso sem falar das igrejas que confundem fé com força e vontade, e centralizam suas mensagens naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal, e não naquilo que Jesus já fez. 

Olhe para sua vida: você crê ter sido declarado justo diante de Deus, em razão da fé que você tem em Jesus? Jesus é, de fato, o Senhor e Salvador de sua vida? Você acredita que precisa fazer algo para, de algum modo, ser aceito e declarado justo por Deus? Você tem descansado na obra de Cristo ou vive preocupado, pensando será que Deus vai me aceitar?

Minha oração é que o “sola fide” esteja vivo em seu coração. Que você creia que a sua justificação, diante de Deus, se dá somente pela fé em Jesus Cristo, e que você creia nele, de todo coração. 

Lembre-se do que Paulo e Silas disseram ao carcereiro, quando ele perguntou o que deveria fazer para ser salvo?”. A resposta foi: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. 

Solus Christus ou Somente Cristo.

Essa expressão declara que a salvação do homem é alcançada somente por meio da morte e da ressurreição de Cristo — ele é o único mediador entre nós e Deus. Não há salvação fora dele e ninguém pode chegar ao Pai senão por meio dele. Ele foi nosso substituto, recebeu uma morte que era nossa para que, por ele, tivéssemos vida em seu nome.

Esse princípio – o somente Cristo – foi defendido pelos reformadores em razão das heresias que a igreja romana cometia (e ainda comete), ao colocar outros meios de salvação e outros meios de mediação entre Deus e o homem. Essas doutrinas afirmavam (e ainda afirmam), que os sacramentos (batismo e ceia, por exemplo) tem o poder de tirar os pecados do homem; que a igreja católica romana salva; e que pessoas, como o papa e até mesmo Maria, são mediadoras entre Deus e os homens. 

Porém, a Palavra de Deus afirma que a nossa salvação está na pessoa de Jesus, não havendo nenhum outro nome, nenhuma outra pessoa, nenhuma denominação, por meio do qual nós somos salvos. 

Veja o que Pedro – considerado pela igreja católica como o primeiro papa – afirma em Atos 4:11-12.

Pois é a respeito desse Jesus que se diz: ‘A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram se tornou a pedra angular’. Não há salvação em nenhum outro! Não há nenhum outro nome debaixo do céu, em toda a humanidade, por meio do qual devamos ser salvos”.

Percebam que Pedro, considerado pela igreja romana como a pedra sobre a qual a igreja de Cristo foi construída, afirmou, inspirado pelo Espírito Santo de Deus, que não ele, mas Jesus é a pedra angular, e que não há salvação em nenhum outro, a não ser em Jesus Cristo. Somente em Cristo há salvação. 

Pedro está afirmando, portanto, que Jesus Cristo, é o único Salvador. A salvação não vem por meios humanos, nem por obras humanas. A salvação não é alcançada por meio dos sacramentos ministrados pela igreja nem mesmo pela mediação do papa ou de Maria. A salvação é obra da graça de Deus somente, por meio da fé somente, em Jesus Cristo somente. 

Pedro afirma, ainda, que Jesus Cristo é a pedra fundamental da igreja, e não o papa, como afirmava (e ainda afirma) a igreja católica. A igreja só tem um fundamento que é Cristo (1 Co 3.11). A pedra sobre a qual a igreja está edificada é Cristo. Só ele é a rocha que não se abala.

Além disso, a Palavra de Deus afirma que Jesus Cristo é o cabeça da igreja. Ele mesmo disse: “Eu edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). Ele é o bom, o grande e o supremo pastor da igreja. Ele deu a sua vida por ela. Ele a remiu com o seu próprio sangue. Ele a governa e com ela vai reinar por toda a eternidade. 

Jesus Cristo é, também, o único mediador entre Deus e os homens. O supremo mediador entre Deus e os homens não é o papa, nem Maria, nem os apóstolos, nem pastores, nem qualquer outro personagem da história. A Bíblia é clara ao afirmar: “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem” (1 Tm 2.5). Jesus foi enfático ao dizer: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida e ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Não há outro mediador, Jesus é o único meio de você chegar ao Pai.

Uma vez, conversando com uma amiga católica, ela disse que orava para Maria pois ela, como mãe de Jesus, tinha livre acesso a Deus. Porém, a Bíblia declara, em Efésios 3:12, que em Jesus nós temos livre acesso à presença de Deus. E é por meio de Jesus, nosso sumo sacerdote, que podemos nos aproximar, com toda confiança, do trono da graça de Deus (Hebreus 4:16).

Além de nosso sumo sacerdote, Jesus Cristo é, também, o Profeta prometido, o único que pode revelar a vontade de Deus, e a quem devemos ouvir (Mateus 17:5). Ele é nosso Senhor e mestre, e só podemos esperar progredir em nossa vida cristã se dermos ouvidos à sua instrução e ensino. Ou seja, não é o que o papa fala, nem o que o pastor diz, mas é o que Jesus ensina em sua Palavra. 

Por isso precisamos ser como os bereanos, que examinavam as Escrituras para ver se Paulo e Silas ensinavam a verdade (Atos 17:11).

Jesus Cristo é também o Rei, que reina sobre todas as coisas (Efésios 1:22; Colossenses 2:10; 1 Pedro 3:22). É Ele que, soberanamente, dá o arrependimento ao impenitente e concede perdão ao culpado (Atos 5:31; Filipenses 2:9-11; Efésios 1:7).

Ou seja, somente em Cristo somos aceitos pelo Pai, comente por causa de Cristo somos atendidos pelo Pai, somente em Cristo somos amados pelo Pai, somente em Cristo somos salvos da ira, somente por meio de Cristo temos paz com Deus, e sem Cristo nada podemos fazer.

É por isso que o Solus Christus, ou somente Cristo, é tão importante para nós, como foi no tempo da reforma. Pois, além do pensamento da igreja católica não ter mudado, muitas igrejas evangélicas também passaram a adotar práticas que retiram a suficiência de Cristo na salvação e na remissão dos pecados do homem, tais como a venda de orações (como se só as orações do pastor fosse ouvida por Deus), a venda de lenço ungido ou objetos consagrados, dentre outras bizarrices.

Além disso, muitos pastores, bispos e pseudo-apóstolos, se colocam em posição de superioridade, como o acesso ao Pai dependesse deles, e não de Cristo.

Olhe para sua vida: você crê que a sua salvação está em Cristo e nele somente? Você crê que, em Cristo, você tem, de fato, acesso livre ao trono da graça de Deus? Você acredita que alguém pode ser salvo sem Cristo? Você acredita que, de algum modo, você contribui para sua salvação ou você confia na suficiência da obra redentora de Jesus? Você acredita que há alguém, além de Cristo, que possa te salvar ou te abençoar, abençoar sua casa, sua família?

Lembre-se, sua alvação não está em uma instituição, não está na figura do pastor, não está no papa ou em Maria, sua salvação não está sequer em você mesmo… sua salvação está em Jesus Cristo, nosso salvador, e somente nele. Portanto, creia em Jesus, confie sua vida à ele, aprenda por meio da Palavra dEle, busque-o, e viva sua vida de modo a agradar a Ele, pois, como Pedro disse, é bom repetir:

Não há salvação em nenhum outro! Não há nenhum outro nome debaixo do céu, em toda a humanidade, por meio do qual devamos ser salvos”.

Soli Deo Gloria ou Somente a glória de Deus.

Essa expressão derivava do entendimento de que tudo o que o homem faz deve se destinar à glória de Deus. Essa deve ser a mola propulsora que nos estimule a viver neste mundo. Ou seja, tudo existe para demonstrar as excelências de Deus e aumentar a sua glória. Ele é glorificado em nós e através de nós, seu povo. 

Porém, um dos maiores problemas do homem, em todos os tempos, tanto na época da reforma, quanto nos dias atuais, é a questão do seu próprio significado. Quem eu sou? Porque eu existo? Qual é o meu propósito? 

Na resposta a essas questões, está um dos pontos focais da teologia reformada. Pois, entre os conceitos básicos da Reforma Protestante figura a resposta mais profunda à inquietante questão da razão da existência humana: Por que e para que existe o homem? Os reformados responderam: o homem existe porque Deus o criou, e Deus o criou para a sua própria glória.

É isso que Deus afirma em sua a Palavra, conforme está escrito em Isaías 43:7: 

“Tragam todos que me reconhecem como seu Deus, pois eu os criei para minha glória; fui eu quem os formou’”.

Paulo sintetizou isso em sua carta aos Romanos da seguinte forma (Romanos 11:36):

“Pois todas as coisas vêm dele, existem por meio dele e são para ele. A ele seja toda a glória para sempre! Amém.”

De igual modo, Judas encerra sua carta dizendo:

“Toda a glória seja àquele que é poderoso para guardá-los de cair e para levá-los, com grande alegria e sem defeito, à sua presença gloriosa. Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.”

Porém, no tempo da reforma, a igreja romana havia se afastado de seu propósito de glorificar a Deus, passando a buscar glória para si mesmo, como instituição. O Império, o governo local, o comércio, o latifúndio, a extração mineral, o conhecimento, a arte, a filosofia e toda e qualquer outra riqueza estava atrelada à igreja. E qual é o problema nisso? O problema estava no fato de que a igreja pensava em sua própria glória e grandiosidade, não na glória de Deus. Lutero, considerado o precursor da reforma protestante, vivia para a Igreja até que descobriu que a igreja não estava mais vivendo para Cristo e sim para o papado e para si mesma. 

Infelizmente, muitas igrejas hoje caem no mesmo erro. Não são poucas as igrejas evangélicas que vivem para a sua própria glória, e não para a glória de Cristo. Não são poucos os pastores e líderes eclesiásticos que buscam a promoção de sua própria imagem, e se esquecem de que a glória é de Deus. E não são poucos os cristãos que, de igual modo, vivem suas vidas focadas em si mesmo, e acabam perdendo o sentido real de sua existência, que é: viver somente para a glória de Deus.

O homem somente encontra significado quando consegue cumprir o propósito para o qual foi criado. Por isso a importância da reforma, e por isso é necessário sempre estarmos em reforma, para que sejamos lembrados que, em todas as coisas que fazemos, Deus deve ser glorificado. Afinal, corremos hoje atrás de muitas coisas, visando quase sempre o nosso bem-estar. Não que seja pecado em si o ato de buscar o próprio progresso, mas isso não pode tornar-se o motivo de nossa existência. Precisamos descobrir a vida gloriosa que há quando vivemos e fazemos tudo somente para a glória de Deus.

John Piper disse certa vez, e com razão, que: “é pecado comer ou beber ou fazer qualquer coisa que NÃO seja para a glória de Deus. Em outras palavras, pecado não é apenas uma lista de coisas nocivas (assassinato, roubo, etc.). Pecado é deixar Deus de lado nos assuntos ordinários de sua vida. Pecado é tudo o que você faz que você não faz para a glória de Deus”.

Por isso, olhe para sua vida e responda: A glória de Deus é o tesouro mais brilhante no horizonte do seu futuro? Ou seja, quando você faz seus planos, traça suas metas, a glória de Deus está sendo considerada, ou você está pensando apenas em si mesmo? Em seu trabalho ordinário, na faculdade ou na escola, suas ações, o modo como você lida com suas responsabilidades, seus colegas de trabalho, com seu chefe, glorificam a Deus? Ou Deus só se faz presente em sua vida aos domingos? Em sua relação familiar (pais e filhos, esposos e esposas), Deus tem sido glorificado? Em sua vida cotidiana, ou seja, em suas conversas, nas músicas que ouve, nos filmes, seriados e canais de youtube que assiste, em suas redes sociais, Deus tem sido glorificado? Você tem buscado sua alegria em Deus, em seu louvor, em todas as áreas da sua vida?

Talvez, depois dessas perguntas você esteja pensando: caramba, como é que eu glorifico a Deus em todas essas áreas? A resposta é simples: Tenha uma vida voltada e centralizada Nele. Tenha em mente que não existe divisão entre o que é sagrado e não sagrado. Tudo o que fazemos deve ser consagrado a Deus. Por isso, devemos nos apegar a verdades como a de Mateus 6.33: “Busquem, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão dadas”.

Que possamos falar a respeito de Deus o mesmo que Asafe disse no Salmo 73:24-26:

“Tu me guias com teu conselho e me conduzes a um destino glorioso. Quem mais eu tenho no céu senão a ti? Eu te desejo mais que a qualquer coisa na terra. Minha saúde pode acabar e meu espírito fraquejar, mas Deus continua sendo a força de meu coração; ele é minha possessão para sempre.”

Ou como Paulo disse, em Gálatas 6:14, 

“Quanto a mim, que eu jamais me glorie em qualquer coisa, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Por causa dessa cruz meu interesse neste mundo foi crucificado, e o interesse do mundo em mim também morreu.”

Que nossas vidas sejam vividas para a glória de Deus somente.

Hoje (31/10/2021) comemoramos 504 anos da Reforma Protestante. Minha oração é que os pilares da reforma, os 5 solas, se façam presentes e reais em nossas vidas, hoje e sempre.

Deixe uma resposta